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Sentir Sem Sentido

" Se a Vida não te sorrir, sorri Tu para ela."

" Se a Vida não te sorrir, sorri Tu para ela."

Sentir Sem Sentido

14
Dez08

Tradição de Natal

sp

 

Em pequena, muito pequena, não entendia porque é que todos os anos, por esta altura, em que as casas se iluminavam com lampadazinhas de várias cores que piscavam, em que se fazia a árvore de Natal, e o Presépio num cantinho bem visível na grande sala, em que cheirava a filhoses e a rabanadas, a minha casa se enchia de crianças desconhecidas. Não percebia, porque tinha eu de dividir o meu espaço, os meus brinquedos, os meus pais e os meus avós, com aqueles meninos de olhar extraviado mas esperançoso que corriam e saltavam no jardim. Não percebia, e também não queria perceber. Sempre que os meus pais se sentavam á minha frente para me explicar o porquê, eu, mimada como era, fingia nada estar a ouvir, enfiava-me no refúgio grandioso do meu quarto e recusava-me a brincar com aqueles seres semelhantes a mim, que me chamavam na sua mais pura inocência. Recusei-me a sair do meu quarto, mesmo na noite de consoada. A casa estava mais cheia do que nunca, para além dos vinte e tal meninos que tinham vindo do orfanato, os meus tios e primos também tinham vindo cear. A minha mãe estava bastante chateada comigo, percebi isso através da voz dela e do seu olhar que tinha perdido o brilho enternecedor que o caracteriza, mesmo assim, fiquei indiferente e deixe-me permanecer na minha bolha de egoísmo. Fiquei completamente sozinha. No meu quarto, que nesse momento me pareceu grande demais para mim, conseguia ouvir as gargalhadas felizes que vinham da sala de jantar. Fui até à janela, olhei as estrelas, e senti que não brilhavam, senti que pequenas lágrimas corriam pelas suas pequeninas faces. Perguntei-lhes porque estavam tristes, e, a mais tristonha de todas respondeu: “ Por tua causa”. Aquela resposta invadiu o meu pequenino interior, e senti-me a mergulhar num mar confuso. Ela prosseguiu: “ Olhas demais para ti, e esqueces que aqueles que estão sentados á mesa com a tua família, são iguais a ti, mas tiveram a infeliz sorte de não terem nascido com uma família como a tua. Muitos deles foram abandonados pelos próprios pais, outros nunca os conheceram, alguns nem sequer sabem o significado de um gesto de carinho, como um beijo ao deitar, ou uma palavra amiga que diz gosto muito de ti. Imagina Beatriz, se acordasses e não tivesses ninguém a quem chamar mãe, se precisasses de limpar as tuas lágrimas quando a tua mãe te recusa um brinquedo e não tivesses a tua avó para te acarinhar. Sabes Beatriz, eles choram porque não tem amor e carinho, choram porque olham para o céu e apenas têm o nosso sorriso por companhia. A tua família acolhe-os e partilha com eles o grande amor que nutre por ti, nesta quadra natalícia, e tu? Porque não partilhas com eles esse coração que tem uma grande amizade guardada? Olha para o teu quarto, tantos brinquedos que não usas, partilha-os. Não fiques presa a um mundo de egoísmo, porque isso só te conduzirá a caminhos de solidão e de tristeza. Faz-nos sorrir outra vez.” E desapareceu. Dos meus olhos saiam vivas lágrimas que se atropelavam sobre a minha face. Corri para a sala de jantar e pedi desculpa a todos. Sentei-me á mesa e ceei com eles. Aqueles meninos todos deram sentido á grandiosidade daquela mesa. Os seus olhos brilhavam e emanavam felicidade. Chamei-os para o meu quarto e partilhei com eles tudo o que o compunha. Brinquei pela primeira vez com algumas das minhas bonecas, brinquei de verdade, como uma criança. A partir desse Natal, todos os outros passaram a ter mais sentido, sempre com aqueles meninos.
Hoje sorrio, ao ver que lá fora as crianças brincam com os meus netos, e enchem a casa e enfeitam-na com os mais ternos e carinhosos sorrisos, nesta quadra natalícia. Olho para o céu e aquela estrela permanece sorridente...
(texto fictício para a Fábrica de Histórias-fabricadehistorias.blogs.sapo.pt)

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